Homilética
O Milagre da Pregação
"Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra
dita a seu tempo." (Pv. 25.11)
A pregação bíblica é um milagre duplo. O
primeiro milagre é Deus usar um homem imperfeito, pecador e cheio de defeitos
para transmitir a perfeita e infalível Palavra de Deus. Trata-se de um Ser
perfeito usando um ser imperfeito como seu porta-voz. Só um milagre pode tornar
isso possível. O segundo milagre é Deus fazer com que os ouvintes aceitem o
porta-voz imperfeito, escutem a mensagem por intermédio do pecador e finalmente
sejam transformados por essa mensagem. Esse é o grande milagre da pregação!
Ao estudar sobre as técnicas da boa pregação, algo deve ser
dito: as técnicas são indispensáveis, até porque foram pesquisadas em diversos
autores considerados especialistas no assunto e são comprovadas pela
experiência de pregadores bem-sucedidos. Contudo, uma coisa precisa ficar muito
clara: todas as técnicas reunidas e colocadas em prática não fazem de alguém um
pregador. Para ser um bom pregador é preciso ter técnica e algo mais. Esse algo
mais é o milagre do Espírito Santo.
Aos quarenta anos de idade, Moisés conhecia todas as técnicas
dos mais variados ramos do conhecimento humano, inclusive a arte de falar em
público em diferentes línguas. Anos depois, quando Deus o desafiou a tornar-se
pregador, o erudito Moisés respondeu: "Ah! Senhor! Eu nunca fui
eloqüente..." (Êx 4.10). Faltava a Moisés algo mais: o milagre! Foi esse
milagre que Deus lhe ofereceu quando disse: "Vai, pois, agora, e eu serei
com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar" (4.12). Mesmo com
relutância, Moisés aceitou o milagre e tornou-se pregador e líder.
Ao contemplar a santidade de Deus, Isaías sentiu-se um inútil
pecador e exclamou: "Ai de mim... porque sou homem de lábios impuros"
(Is 6.5). Ele sentiu que seus lábios impuros o desqualificavam para qualquer
contato com a Divindade, principalmente para ser-lhe um porta-voz. Faltava a
Isaías um milagre. Finalmente, um anjo tocou-lhe os lábios com a brasa viva do
altar de Deus, e, só após esse milagre, Isaías sentiu-se em condições de ser um
porta-voz de Deus e aceitou o desafio: "Eis-me aqui, envia-me a mim"
(6.8) da mesma forma, o pregador de hoje também é homem de impuros lábios, mas
que, tocado pela brasa viva do altar, pode tornar-se um porta-voz de Deus e ser
usado no milagre da pregação.
Por incrível que pareça, é essa mistura do humano com o divino
que dá poder à pregação. Segundo Phillips Brooks, a pregação é a
"apresentação da verdade através da personalidade", e foi Deus quem escolheu
essa combinação da verdade perfeita com a personalidade imperfeita para dar
poder à pregação. Em outras palavras, o pregador usa as características de sua
personalidade, como conhecimento, habilidade, voz, pensamento, e a sua vida
para transmitir a verdade divina, e essa união do divino com o humano tem o
poder de alcançar outros seres humanos e transformá-los.
Isto é pregação: um poderoso milagre de Deus, o infinito fluindo
por via finita, o perfeito chegando até nós por meio do imperfeito, a santidade
sendo transmitida através de pecadores, e isso tem o poder de transformar
outros pecadores.
Com essa visão da pregação como um milagre de Deus, passemos a
considerar os elementos técnicos e estratégicos que Deus deseja utilizar nessa
mistura do humano com o divino, ou seja, os recursos da personalidade para
transmitir a verdade.
Tirado do livro “A arte de Pregar”
autor Robson Moura Marinho
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