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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO


A HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO

A questão da interpretação é uma das questões mais importantes da na teologia e no mundo evangélico, sendo assim é e deve ser um assunto de extrema importância para todo pregador e conseqüentemente para todo cristão ou leitor das escrituras. São várias as tragédias provocadas pela falta de cuidado na interpretação da Palavra, pessoas foram enganadas e vidas foram destruídas por falta de instrução e de prudência nesta área.
A interpretação sapara e divide pessoas, diverge e confunde opiniões e pensamentos, complica a mente e crença das pessoas e por fim tem implicações na vida de todo leitor das Escrituras. Por causa das diferentes interpretações nós temos várias denominações diferentes, várias igrejas diferentes e várias linhas teológicas diferentes, ou até, contraditórias. Somos todos cristãos, mas:
·        Alguns acreditam no pentecostalismo outros não.
·        Alguns acreditam na diversidade de línguas e outros não.
·        Alguns acreditam na contemporaneidade dos dons espirituais e outros não.
·        Alguns acreditam no batismo do Espírito Santo como uma experiência distinta da conversão, e outros acreditam no batismo do Espírito Santo como algo simplesmente histórico ou como sendo a mesma coisa com a conversão.
·        Alguns acreditam na contemporaneidade dos cinco dons ministeriais (Ef. 4:11) e outros não.
·        Alguns acreditam na tricotomia e outros na dicotomia.
·        Alguns acreditam no arrebatamento pré-tribulacional e outros acreditam no arrebatamento midi-tribulacional ou no pós-tribulacional.
·        Alguns acreditam no pré-milenismo e outros acreditam no amilenismo ou no pós-milenismo.
Enfim, por causa da forma como entendemos que a Bíblia deve ser interpretada e por causa da forma coma a interpretamos, acabamos criando várias linhas e vários pensamentos diferentes e divergentes.
Baseado no livro do Dr. J. Dwight Pentecost, quero fazer um breve resumo da história da interpretação das Escrituras.

O começo da interpretação das Escrituras
Por mais que existam algumas divergências quanto às datas e épocas (como sempre), a maior parte dos historiadores e estudiosos peritos no assunto concordam que a interpretação das Escrituras propriamente dita, começou depois do retorno de Israel do exílio babilônico (Nee. 8:1-8). Existem algumas razões que motivaram o começo da interpretação:
·        O povo judeu havia feito muito tempo em cativeiro e muitos acabaram esquecendo e negligenciando a Lei.
·        O povo judeu por causa do tempo que fez em cativeiro, durante o exílio, acabou substituindo a língua nativa deles (o hebraico), pelo aramaico.
·        O povo judeu durante o exílio acabou se corrompendo com os costumes e com as práticas estranhas de outros povos.
·        O povo judeu depois de retornar do cativeiro, nem todos estavam interessados em conhecer a Lei e as profecias e muito menos obedecê-las ou viver segundo elas.  
Esdras foi uma das primeiras pessoas que começou a se aplicar na arte da interpretação das Escrituras, explicando e aplicando-as na mente e no coração do povo que havia retornado.
Defendendo a interpretação literal, o Dr. J. Dwight Pentecost diz que é muito difícil e praticamente impossível imaginarmos que Esdras tivesse interpretado as Escrituras alegoricamente ou que ele tivesse espiritualizado todos os textos das Escrituras.

A interpretação judaica do Antigo Testamento
Os judeus interpretavam as Escrituras do Antigo Testamento de forma literal. Baseado nos escritos de Jerônimo, onde o mesmo chama a interpretação literal de judaica, o Dr. Pentecost diz que na opinião de Jerônimo o método literal e a interpretação judaica eram sinônimos. Ou seja, os rabinos judeus não interpretavam as Escrituras alegoricamente ou usando o método alegórico de interpretação. Alguns deles inclusive, iam ao extremo, esvaziavam as Escrituras de todos os seus requisitos espirituais.
O Dr. Pentecost defende novamente que os judeus ou os rabinos judeus não usavam o método alegórico, mas sim o método literal de interpretação.

A interpretação nos dias de Cristo
Através de alguns textos dos quatro evangelhos podemos notar que os judeus que vinham conversar com Jesus não alegorizavam os textos do Antigo Testamento. Recitavam, entendiam e explicam literalmente. O próprio Cristo na maior parte das suas falas interpretava o Antigo Testamento literalmente. Ele dava o verdadeiro sentido das leis, dava as lições morais e espirituais por detrás das leis, mas nunca as alegorizava. Um outro método de ensino que muitas vezes Jesus usava era o ensino por meio de comparações, comparações por meio de parábolas, hipérboles e sinédoques, mas não alegorias.

A interpretação dos judeus platônicos
Os judeus que seguiam a filosofia grega e que eram adeptos do platonismo começaram, no primeiro século, em imitação dos gregos pagãos, a interpretação alegórica do Antigo Testamento. Este grupo de judeus, usando a filosofia começou a interpretar alegoricamente as Escrituras. Este método começou a ser defendido e difundido através de um homem chamado Filo de Alexandria. Ele começou a defender este método como algo novo e até então desconhecido, mas, este método começou a ser usado por somente alguns poucos judeus viajantes ou que viviam fora da palestina.

A diferença entre o literalismo judeu e o literalismo do método histórico-gramatical
Apesar dos judeus até a época de Jesus interpretarem as Escrituras literalmente, o literalismo deles é diferentes do literalismo defendido atualmente pelo método de interpretação histórico-gramatical. O literalismo judeu esvaziava as Escrituras de todo de todo e qualquer significado, exaltava-se a letra ao ponto de se perder todo o sentido verdadeiro, ou seja, o sentido moral e espiritual (não a alegoria ou o sentido alegórico). Eles não se importavam com o que Deus realmente pretendia ensinar e o que Ele realmente queria que o povo entendesse e praticasse, ou seja, se desviavam do essencial. Na verdade o que estava errado neles não era propriamente o método em si, mas o seu emprego ou a forma como o aplicavam.

A interpretação entre os discípulos ou os apóstolos de Jesus
Ao estudarmos as epístolas vemos claramente que os discípulos ou os apóstolos que escreveram, pregavam e ensinavam literalmente, ou seja, não usando o método alegórico. Podemos com isso concluir que eles haviam aprendido este método através do mestre e Senhor deles, a saber, Jesus Cristo. Quase que uma única vez vemos uma clara alegoria, usada por Paulo a título de ilustração passageira, (como diz o célebre Dr. Farrar). Mas em geral os discípulos entendiam e interpretavam as Escrituras do Antigo Testamento usando o método literal.

A origem e a ascensão da alegorização
Apesar de ser o Filo o homem que a princípio deu bases para a interpretação alegórica, defendendo e propagando-a, mas ele adotou esse conceito de Aristóbulo e procurou conciliar a lei mosaica com a filosofia grega, tentando fazer com que a primeira se tornasse aceitável à segunda. Segundo o entendimento de Filo, a filosofia grega era a mesma coisa com a lei mosaica, e ele tentava de todas as formas estabelecer e demonstrar uma harmonia entre essas duas doutrinas. Tentava unir a religião judaica com a filosofia clássica e tentava introduzir o judaísmo e as crenças judaicas no mundo grego instruído. Por causa dos seus objetivos, ele juntava e explicava as leis judaicas segundo a filosofia e na linguagem secular filosófica. Filo achava que a sua tarefa ou missão era esta, e por causa disso ele recorreu e recorria ao método alegórico de interpretação.
A partir daí, este método começou a ganhar espaço e aos poucos começou a influenciar outras religiões e outros estudiosos. Por exemplo, a escola catequética de Alexandria adotou inteiramente este método de interpretação, como o principal método. Um dos primeiros mestres desta escola foi o Panteno e depois foi substituído por Clemente de Alexandria e Orígenes. Alguns estudiosos dizem que Clemente propôs abertamente o princípio de que toda a Escritura deveria ser entendida alegoricamente.
Orígenes por sua vez, foi o primeiro a formular uma teoria formal de interpretação, a qual pôs em prática numa longa série de obras exegéticas. Baseado na filosofia e psicologia platônica e no seu próprio entendimento, ele elaborou uma teoria que dizia que assim como o homem é constituído por corpo, alma e espírito, da mesma forma a Bíblia é um organismo vivo e tem sempre tríplice sentido. Segundo o seu pensamento a interpretação das Escrituras consistia em três partes:
·        Sentido somático: literal ou histórico. É o sentido que pode facilmente ser depreendido através das palavras contidas no texto, e este sentido servia apenas de véu para uma idéia superior ou uma verdade maior e oculta.
·        Sentido psíquico: ensino moral. Este dava vida ao primeiro sentido e servia de edificação geral.
·        Sentido pneumático: místico e ideal. Este sentido era para os mais maduros e sábios, aqueles que possuíam um nível avançado de conhecimento filosófico.
Por causa desta linha de interpretação e de entendimento das Escrituras, ele que era tido como um dos defensores do verdadeiro evangelho e da ortodoxia, começou a ser questionado e tido por alguns, como uma porta de heresias e interpretações erradas.
Defendendo o método literal e histórico-gramatical, o Dr. Pentecost afirma que o método alegórico de interpretação não nasceu do estudo das Escrituras, mas nasceu de um desejo desenfreado de unir a filosofia a Palavra de Deus. Não surgiu de um desejo de apresentar as verdades da Palavra, mas nasceu pelo desejo de se criar fantasias e coisas agradáveis aos ouvidos. Não foi fruto da ortodoxia, mas da heterodoxia.
Os estudiosos afirmam que durante a época patrística surgiram três escolas exegéticas, a saber:
·        A escola literal e realista: representada por Tertuliano.
·        A escola alegórica: representada por Orígenes.
·        A escola histórica gramatical: representada por Mopsuéstia.


A interpretação na idade média
Na idade média seguiu-se a tradição da interpretação alegórica e a maior parte dos intérpretes observavam a interpretação em quatro sentidos, a saber:
Sentido literal
Sentido metafórico
Sentido alegórico
Sentido analógico

A interpretação na época da reforma
Os alicerces da reforma foram lançados no retorno ao método literal de interpretação. Na reforma o método literal voltou a ganhar forças e a conquistar mais espaço, neste período começou-se a ensinar que as Escrituras deveriam voltar a serem interpretadas de forma literal, ou seja, começou-se a rejeitar o método alegórico. Neste período vários nomes são citados dentre aqueles que deram força ao método literal de interpretação, começando por Lorenzo Valla, Erasmo de Roterdã, os dois insistiram na interpretação gramatical da Palavra.
Wycliff, um outro nome importante no movimento da reforma, dizia que todo erro no conhecimento das Escrituras e a fonte de sua deturpação e falsificação por pessoas incompetente resume-se no desconhecimento da gramática e da lógica. Mas como todos nós sabemos, dois nomes se destacam na reforma propriamente dita, Lutero e Calvino, são dois homens que muito trabalharam para trazer a reforma e também na estruturação da mesma reforma, eles deram bases e alicerces para que a reforma não se tornasse um simples movimento falho. E os dois ensinavam e insistiam na interpretação literal das Escrituras, ensinavam o método histórico-gramatical.
Lutero dizia: “cada palavra deve ter o direito de conservar seu sentido natural, e este não deve ser abandonado a não ser que a fé nos force a isso”. Ele insistia:
·        No caráter indispensável do conhecimento gramatical.
·        Na importância de levar em conta tempos, circunstâncias e condições.
·        Na observação do contexto.
·        Na necessidade de fé e iluminação espiritual.
·        Na conservação do que ele chamou proporção da fé.
·        Na menção de toda Escritura a Cristo.
O Dr. Pentecost diz que Calvino ocupa um lugar inigualável na história da interpretação. Ele rejeitou o método usado por Filo e também por Orígenes, chegava a considerar o método alegórico como um método satânico. Segundo o Dr. Schaff, “João Calvino é o fundador da exegese histórico-gramatical, ele defendeu e praticou o sadio princípio hermenêutico de que os autores bíblicos, como todos os autores sensatos, desejavam transmitir aos seus leitores um pensamento definido em palavras que os leitores fossem capazes de entender. Uma palavra pode ter o sentido literal ou figurado, mas não pode ter os dois sentidos ao mesmo tempo”. Calvino afirmou em um dos seus escritos: “Saibamos, portanto, que o verdadeiro sentido da Escritura é o sentido natural e evidente, abracemo-lo e permaneçamos nele resolutamente”. Calvino também disse: “A primeira ocupação de um intérprete é permitir que seu autor diga o que quer dizer, em vez de atribuir ao autor o que pensa que ele quer dizer

A interpretação no período pós-reforma
Os homens que sucederam os grandes reformadores continuaram seguindo os passos deixados pelos seus predecessores, continuaram ensinando e praticando o método histórico-gramatical. Podemos citar alguns nomes: Melâncton, Ecolampádio, Bucer, Brenz, Bugenhagen, Musculus, Camerário, Bullinger, Cheminitz, Beza. Por mais que houvesse divergências dentre eles quanto a alguns pontos, todos eles concordavam quanto à questão de que as Escrituras deveriam ser interpretadas literalmente, ou seja, usando o método histórico-gramatical.
Depois deste período Pentecost cita outros homens que sucederam ao que acabamos de citar e também contribuíram muito na tarefa da interpretação da Palavra, nomes como de: John Koch (1669), John James Wetstein (1754), John Albert Bengel (1754). Estes, prepararam o caminho para os outros homens mais recentes a época, tais como: Lightfoot, Westcott, Ellicott e outros.
Um outro nome que é citado destacadamente é o de John August Ernesti, dele Terry escreve: talvez o nome mais proeminente na história da exegese no século XVIII seja o de John August Ernesti, cuja obra Princípios de interpretação do Novo Testamento (Leipzig, 1761), foi aceite como compêndio de hermenêutica por quatro gerações de estudiosos bíblicos. Ele é considerado como o fundador de uma nova escola exegética, cujo princípio era que a Bíblia deve ser rigidamente explicada de acordo com a sua própria linguagem e, nessa explicação, não pode ser subornada nem pela autoridade externa da igreja, nem por nossas sensações, nem por caprichos alegóricos e irreverentes, e nem por sistema filosófico nenhum.  

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